"Na verdade, o inacabamento do ser ou da inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento" (FREIRE: 1996, p.22)
Em Pedagogia da autonomia, Paulo Freire organiza em três capítulos ensinamentos de admirável sabedoria,desafiadores, sobretudo porque há uma reflexão a partir de uma prática de ensino, no cerne da qual há seres em construção, inacabados: 1. "Não há docência sem discência"; 2. "Ensinar não é transferir conhecimento"; 3. "Ensinar é uma especificidade humana". Infelizmente, não é tão fácil realizar uma prática coerente, fundamentada num "pensar certo", incorruptível, ao longo de toda uma vida no âmbito da educação, muitas vezes é necessário uma longa jornada "completar a carreira, guardar a fé e combater o bom combate", haja vista que pensar a educação de forma séria é correr riscos, é navegar na contramão no contexto em que nos situamos. Há muitos companheiros desacreditados, sobretudo na educação pública básica, assim como existem as referências que insistem em ficar em nossas mentes.
No que se refere à Educação à distância, são pertinentes as consideração freireanas de que não se deve divinizar nem diabolizar a tecnologia. À medida que caminhamos, mais é possível notar o quanto são interdependentes teoria e prática. A todo momento a tecnologia mostra-nos novas alternativas, recursos que exigem constante atualização, problemas novos. Enquanto seres inacabados, a compreensão dos nossos olhares para a educação são ampliados e o que há de tão inquietante ou mesmo fascinante é que lidamos com gente, gente que busca realizar sonhos, gente que busca um "canudo" para ostentar. Assim como também somos gentes, inacabados, sob o risco de sermos engolidos por um mar de informações.
Em EaD, amor, humildade, esperança, fé nos homens e um pensar crítico, pilares imprescindíveis para a condição humana, parecem soar distantes quando enxergamos apenas a tela do computador ou um mero cumprimento de uma obrigação, parece fazer sentido as considerações de que vivemos numa sociedade líquida, parafraseando Zigmunt Bauman. Com efeito, por mais que um aluno seja autônomo em seus estudos, minoria nos cursos de EaD, é necessário que se construa lastros sólidos, "não há docência sem discência". A consistência ou fluidez de nossa prática docente estão inseridas num contexto complexo, repleto de riscos e desafios. A consciência do inacabamento, nesse sentido, é um fator revolucionário, "próprio da experiência vital".
Wesclei Ribeiro
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