Oi, amigos!
Pensar em educação de qualidade, necessariamente, inclui o envolvimento emotivo dos profissionais do corpo docente, o que, por vezes, pode acabar decepcionando aqueles que ainda possuem fé nos homens (inclusive nos professores). Penso sempre que antes de ser um professor eu sou aluno, e lembro de quando eu me desinteressava pelas aulas (às vezes era culpa minha, outras do professor, outras ainda do conteúdo...).
Primeiramente, é bom termos em mente que é impossível, mesmo para aquele professor calejado e desgostoso em relação a sua profissão, não se envolver emocionalmente no processo de ensino-aprendizagem. Partimos desse raciocínio porque há diversas maneiras de se fazer isso, umas positivas e outras não.
Digo isto porque quando fiz estágio numa escola da rede pública, ao entrar na sala dos professores aprendi a deixar todo o meu entusiasmo fora dali e a atentar para toda a frustação que revestia aquele corpo docente. Ali era o antro do baixo astral. Parecia que os alunos daquela escola não tinham nada de bom, pois pelo que os professores falavam, os discentes precisavam muito mais de uma jaula do que de um quadro, pincel, aulas, empatia, respeito, amor. Mas talvez o que os professores não percebessem era que eles próprios só precisavam ser humanos (no bom sentido da palavra, pois “humano” também agrega toda a podridão de atos funestos).
Criticaram-me quando eu disse que gostava dos alunos, que achava que eles eram bons. Disseram que era porque eu ainda era “verde”, que depois de uns cinco anos de docência eu mudaria minha opinião. Não sei, talvez aqueles profissionais amargurados, massacrados pelos míseros R$6,00 h/a não tivessem alguma satisfação em lecionar. Professores de variadas alçadas: física, matemática, filosofia, artes, biologia, redação, espanhol, inglês...
Assim eu segui minha rotina de estágio procurando ficar longe da sala dos professores, pois de lá eu saía também amargurado. Preferia ficar com os alunos, jogando “ping-pong” e conversa fora. Havia somente um professor que compartilhava do meu entusiasmo, não sei se por calor de começo de carreira (ele, havia pouco tempo, passara no concurso para professores do Estado). Às vezes conversávamos sobre aquela atmosfera sombria que pairava na sala dos professores.
Enfim, toda essa divagação é para dizer que aquele professor me falou sobre outro professor que o influenciara decisivamente na escolha de sua profissão. Imediatamente me lembrei de um mestre que também me serviu de exemplo, e daí pensei que valia a pena continuar acreditando. É preciso ter fé nos homens e ter humildade para reconhecer nossas possibilidades e limitações, assim como as de nossos alunos, o que é bem diferente de ter ilusões, sonhos irrealizáveis.
Nessa escola, numa aula para uma turma da 9a série, adolescentes entre 14 e 15 anos, desenvolvemos uma atividade de interpretação textual de uma canção que a maior parte dos alunos gostava: “Pais e filhos”, da Legião Urbana. Durante a atividade observei a total concentração dos alunos, sua vontade de participar com contribuições de grande relevância para o entendimento da letra. Houve jovens se expondo, traçando analogias entre suas próprias vidas e as situações descritas pelo eu-lírico. Enfim, a aula foi tão boa que eles pediram para que continuássemos após o toque de fim de aula (era a última aula da sexta-feira!).
Como produção escrita, pedi para que os alunos trouxessem algum texto, poema ou canção que os descrevessem ou que se relacionasse intimamente com eles próprios. A partir deste texto, poema ou canção eles fariam uma redação intercalando com trechos do que trouxeram. O resultado foi surpreendente: alguns se emocionaram, outros não quiseram ler em público, mas todos participaram e criaram uma relação mais estreita comigo. Pude saber que um aluno tinha um pai alcóolatra, que outro sofria duros castigos físicos, que outra estava apaixonada por um colega etc. Coisas que só vão se estabelecer se houver compromisso, os pilares de que fala Freire: houve esperança, houve pensar crítico. Desculpem se me alonguei demais, gente! Mas essa experiência até hoje me emociona. Abraços!
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