sábado, 24 de setembro de 2011

Quis sum?

Na Inglaterra, crianças e adolescentes aprendem latim nas escolas

Prezados amigos:

Meu nome é Fábio Damasceno. Sou licenciado em Letras (Português) e especialista em Investigação Literária, ambos pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Na extensão da UFC, cursei Português (Casa de Cultura Portuguesa), Inglês (Casa de Cultura Britânica), Espanhol (Casa de Cultura Hispânica) e Latim (Departamento de Letras Estrangeiras).

Profissionalmente, atuo como tutor de Língua Latina e Filologia Românica (UAB-UFC) desde 2008; como instrutor de Língua Portuguesa (SRH-UFC), leciono também desde 2008; e como revisor de textos acadêmicos, trabalho desde 1998. Sou servidor técnico-administrativo em educação da UFC desde 1994, atualmente lotado na Casa de Cultura Hispânica (CCH). Nesta, promovo, desde 2007, a Oficina de Latim 1 e a Oficina de Latim 2 no período de férias (janeiro e julho).

Minha primeira experiência como tutor, como disse acima, ocorreu em 2008. Nos primeiros encontros presenciais, senti-me extremamente motivado. Para os que se dedicam às línguas clássicas (latim e grego) qualquer chance que temos de compartilhar nossos conhecimentos é aproveitada ao máximo - e não são muitas, quando comparadas às existentes para professores de línguas modernas (português, inglês, espanhol).

No início de nossos trabalhos, apresentamo-nos, alunos e tutor, falando um pouco sobre nossa vida pessoal e profissional. Em seguida, procurei saber quais as expectativas dos alunos quanto à disciplina. Depois desse primeiro contato, expliquei um pouco como seria nosso curso: carga horária, ementa, conteúdo programático, prazos para entrega de trabalhos, esclarecimentos sobre número de faltas, presença nos fóruns, dentre outros assuntos.

Por meio do powerpoint, procurei sensibilizar os alunos quanto à relevância e atualidade dos estudos clássicos - e mais especificamente do latim. Discutimos inúmeras questões, dentre as quais: qual o conceito de língua morta?; qual a importância de se estudar latim no curso de Letras?; qual a influência do latim nos idiomas modernos?; por que países como Inglaterra e Alemanha, dentre outros, ainda promovem o estudo da língua latina, se seus idiomas vernáculos (inglês e alemão, respectivamente) não são oriundos diretamente do latim? qual a relação das disciplinas de Latim I, Latim II e Filologia Românica com as das áreas de Linguística e Literatura, dentre outros questionamentos. Finalizei esses primeiros momentos exibindo um documentário sobre o imperador Nero.

No transcorrer da disciplina, entretanto, pude perceber que o maior problema a ser enfrentado não estaria relacionado ao latim, mas ao português. Nosso método pressupõe o conhecimento da norma padrão da língua portuguesa. A maioria dos alunos não a domina. Isso se torna mais grave pelo fato de se estar num curso de Letras, com habilitação em português.

Muitos, então, passam a relacionar suas dificuldades quanto à norma culta do português ao idioma latino. Tal fato, acredito, explica um pouco a injusta fama que as disciplinas de Latim I, Latim II e Filologia Românica apresentam entre os alunos - matérias de difícil compreensão. Essa realidade fez com que alguns alunos abandonassem a disciplina antes de seu término. Vale destacar, ainda, que as sessões de chat foram consideradas ineficazes pelos estudantes. Eu concordei com eles. Apesar de termos dividido as turmas em grupos, o diálogo com os alunos foi comprometido pelas peculiaridades da disciplina. Quanto ao resultado final dessa disciplina, houve poucas reprovações. Poucos também foram aprovados com conceito A. A grande maioria obteve conceito B. Isso demonstra, claramente, as dificuldades enfrentadas pelos alunos.

Nas demais turmas que estiveram sob minha responsabilidade, procurei minimizar essa defasagem em língua portuguesa. Passei a disponibilizar alguns materiais didáticos no polo, com o tutor presencial, bem como por meio de indicação de páginas na internet e de cursos de extensão.

Por fim, saliento que, no transcorrer da disciplina, sempre procurava contextualizar as frases e textos a serem traduzidos. Essa contextualização se dava por meio de links (verbetes, reportagens, vídeos, imagens) sobre cultura romana (história, literatura, mitologia). Nessa área, também se percebem carências quanto ao conhecimento enciclopédico dos alunos. Dentro de nossos limites, tentamos, por meio do diálogo, fazer com que os alunos preenchessem essas lacunas em sua formação.

Alguém viveu alguma experiência semelhante a que vivi? Agradeço, antecipadamente, àqueles que queiram compartilhar comigo suas experiências. Certamente, elas me servirão para aperfeiçoar o trabalho que desenvolvo.

Um fraternal abraço a todos.

4 comentários:

  1. Olá Fabio,
    gostei muito da sua apresentação e em especial dos links que colocou. Quando fiz latim I e II também senti essa dificuldade por conta da 'sintaxe', tanto que cheguei ao ponto de lembrar das formas dos casos e não saber usá-las. Por outro lado, também aprendi muito com o latim, aprendi nas duas disciplinas o que não consegui no ensino medio (gramatica).

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  2. Olá colega Fábio!
    Que interessante e emocionante seu texto, fico feliz demais ao compartilhar conosco suas experiências, especialmente nessa área do Latim, e gosatia até de lhe pedir que nos avisasse qdo fosse ministrar esse curso de latim nas férias. O que apredemos na gradução já faz tanto tempo, seria uma boa oportunidade de nos reencontrarmos com o latim.
    Abração amigo,
    Marcia.

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  3. Oi, Fábio! Prazer em conhecê-lo virtualmente! Olha, eu não cheguei a ter uma experiência como a sua pois dei aula de inglês, e de inglês todo mundo sabe falar alguma coisa, pelo menos o "thank you" ou mesmo o "the book is on the table", mas senti o drama de ter numa sala de aula 80% de alunos que não escrevia uma linha sequer em inglês e, quando escrevia, era tradução feita pelo google, que geralmente resulta numa frase truncada, 'sem pé nem cabeça'. Imagino a sua dificuldade em dar aula de Latim, virtual, ainda mais! Muito interessante foi o seu método de criar links da dsisciplina com documentários e discutir com os alunos a importância do estudo da língua latina. Parabéns pela criatividade e continue assim!
    Abraços;
    Adriana.

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  4. Prezado Fábio Damasceno,
    Fui orientado por nossa tutora a comentar sua postagem no blog. Antes de começar essa tarefa, quero registrar que é um prazer compartilhar de suas ideias a respeito das experiências proporcionadas pelo trabalho de tutor.
    O seu texto é relevante para repensarmos nossa prática docente sob muitos aspectos, mas procurarei pontuar alguns que se destacaram, com os quais comungo: a) primeiramente, seu texto revela a postura e o trabalho de um professor-tutor apaixonado pelo que faz – as línguas clássicas, em especial o latim, que conheço bem- são fascinantes, mas costumam ser objeto de estigmas nos cursos de letras por que alguns profissionais que, infelizmente, tolhem os alunos nas primeiras aulas; b) outro ponto que você menciona é o conhecido fracasso dos alunos no conhecimento da chamada norma padrão culta do português, que também é tributário do descaso do ensino de latim – extinto no ensino regular e nem sempre levado a sério no curso de Letras – o que geram um círculo vicioso; c) a reflexão acerca da importância de se estudar a língua que foi depositária e transmissora da cultura e do pensamento ocidental, do qual partilhamos: a cultura ocidental – toda ela – queiramos ou não, é um resquício da cultura e pensamento praticados na planície do Lácio; d) e por último, você chama a atenção para o fato de o latim ser disciplina curricular em países que não falam uma língua neolatina, o que reforça a importância da carga cultural que Roma delegou ao mundo moderno. Em inglês, por exemplo, muitas são as palavras que são de origem latina, cuja flexão só pode ser explicada (aos que desejam saber o porquê das coisas sem decorar) se apelarmos para o latim.
    É de suma importância sairmos do básico, do óbvio, do elementar, para que o nosso trabalho seja destaque e, para alcançarmos isso, me parece extremante eficaz o compartilhamento de links, os materiais extra curso disponibilizados pelo tutor, o que permite os alunos avançarem além do esperado - nesse aspecto, você, também, está de parabéns.
    Para não me delongar, faço votos de sucesso nessa empreitada por caminhos nem sempre planos por que trilham os profissionais do ensino. Foi um prazer ler e comentar o seu trabalho. Grande abraço,
    Fábio F. Torres

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